A ideia de que uma misteriosa partícula-fantasma é capaz de viajar mais rápido do que a luz continua de pé, segundo o grupo de cientistas italianos que diz ter observado o fenômeno em setembro.
Entre o fim do mês passado e o começo deste, eles refizeram os experimentos com neutrinos (a tal partícula misteriosa) e verificaram que a anomalia se mantém.
Ao atravessar os 730 km entre Genebra, na Suíça, e Gran Sasso, na Itália, os neutrinos chegam 60 nanossegundos (bilionésimos de segundo) antes do que deveriam se estivessem respeitando a velocidade da luz.
Agora, os cientistas do grupo se sentem confiantes o suficiente para submeter o resultado à publicação num periódico científico, informa a revista "New Scientist".
Entre os que assinarão o artigo científico está Luca Stanco, do Instituto Nacional de Física Nuclear da Itália. Stanco integrava um conjunto de 15 cientistas do grupo Opera (o responsável pelas observações) que tinha se recusado a associar seu nome aos achados antes, por acreditar que poderia haver um erro de metodologia no trabalho.
Ele disse à "New Scientist" que mudou de ideia porque as novas medições são "absolutamente compatíveis" com os dados originais.
Ainda não está claro como encaixar a descoberta, se ela estiver mesmo certa, no que a teoria da relatividade de Albert Einstein diz sobre o funcionamento do Cosmos.
Para Einstein, o limite de velocidade cósmico de 300 mil km/s teria uma resistência quase intransponível a ser quebrado. Os objetos que se aproximassem dele ficariam cada vez mais maciços, até se aproximar de uma massa infinita --impossível de existir.
George Matsas, físico teórico da Unesp, considera "muito estranho" que apenas os neutrinos quebrem esse limite, enquanto o resto do Universo parece segui-lo.
"Se as observações forem mesmo confirmadas, um cenário possível é que os neutrinos estejam viajando por dimensões extras que só eles visitam", como se fosse um atalho, afirma Matsas. Essa possibilidade é, em princípio, compatível com a teoria da relatividade de Einstein.
Para Luís Carlos Bassalo Crispino, físico da Universidade Federal do Pará, os dados ainda são "extremamente polêmicos". "Tendo a ser conservador e achar que isso é um erro. Há outras áreas muito mais férteis na física hoje, com dados muito mais sólidos", diz Crispino.